... Ela devia estar beirando os cento e poucos anos. Gostava de ficar perto da família e também dos amigos para papear a vontade. Gostava de contar histórias de seu tempo, dos filhos que teve (17), daqueles que Deus levou-lhe.
Era uma negra grande, de carapinha branquinha e fofa como algodão no pé. Era vaidosa. Gostava de belas roupas e perfumes cheirosos.
Um dia, um de seus familiares a traiu. Atraiçoo-a com o que é de mais covarde: seu único dinheirinho, sua pensão... Foi roubada por um neto! O dinheiro que era para suas necessidades, ele pegou-o todo para ir se divertir na praia!
Era ela quem deveria estar lá... Porque gostava muito das ondas do mar em seu balanço doce!
Ficara magoada com a família que em vez de apoiá-la em suas desconfianças, apoiara quem lhe roubara.
Ela adorava crianças... Quando seus netos e bisnetos apareciam para fazer-lhe uma visita, ficava toda alegre!
E então... Com um tombo, ela se machucara muito. Quebrou o fêmur e foi condenada a nunca mais andar. Ela que gostava tanto!
Uma neta a levara para outro lugar, outra casa, onde era tratada com amor e carinho... Ali reencontrou a felicidade para viver de novo. Mesmo que fosse presa à cama. Mas ainda havia o recurso da cadeira de rodas.
Lá, ela podia aos domingos, beber seus dois dedos de vinho... Era feliz!
Em seu aniversário de cento e poucos anos, fizeram um bolo enorme. Era tanta gente querendo abraçá-la que nem dava conta! Ela estava feliz!
Logo depois, Deus resolveu chamá-la para viver com Ele; despediu-se do neto mais amado e da nora que gentilmente dormiram no hospital para cuidar dela e quando a neta chegou para render-lhes na casa de caridade, sentiu que a hora era lhe chegada.
Fez sua oração e foi com Ele.
Vivera sua vida com plenitude, com alegria e felicidade!